segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Devias Duvidar?



 Dotada do direito de dizer doidices, devo declamar dramaticamente: devias dar-me as dores de dardos doces donde descem deliciosos desejos duvidosos uma dada dormida de dia. Duvido disto: do damasco desvalorizado, da desculpa da doida, de dedos-duros deduradores durões devedores, do deixado e desacreditado desamor desenfreado, dominando deputados desvairados, "doladore$" desesperados. Dum drama doutro doutor descabido de detalhes do doente. Da dama demasiadamente demorada decorando-se de dobra da hora. Devo duvidar decerto dessa dama daqui de dentro, deixa-la desatada desencadearia desatentos e desatinos desdevidos.

Teletransporte



O amor é a lente do imaginário
Pra quem ama, a Lua é amante do Sol
E as estrelas, suas luzes acesas
Que pelas madrugadas inteiras ficam aguardando
O meio dia em que seu amor queimará
Pra quem ama, o espelho não entende só matéria de reflexos
Segredo contado pra ele no fundo dos olhos
É grão de areia no fundo do mar.
Pra quem ama, teletransporte é a coisa mais fácil
Basta deitar e fechar os olhos
E ouvir no som da chuva
Os estalos de beijos
As gargalhadas e os risos
Sem propósito explícito

Primeiro Janeiro



É janeiro e eu senti de novo aquele abraço
Enquanto o primeiro pingo de chuva na janela escorreu
Lembrei do seu papo escorregadio de primeiro janeiro
e cantei sozinha que o amor ia desse mês até o mundo acabar.
Por isso li amor,escrevi amor, assisti,sonhei
Só não senti, pois bem sei
Que ele é coisa demais pra ser chamado mero sentimento
Sobre o amor: basta vivê-lo e dar a ele todo seu espaço tempo

Caixa de correio



Caixa de correio vermelha
Leve uma mensagem para o meu amor
Uma mensagem bonita de saudade
Que o faça responder
Uma mensagem doce
Que o faça querer repetir
Uma mensagem aconchegante
Como um abraço antes de dormir.

Caixa de correio vermelha
Fez o que lhe pedi?
Pois já se passara três semanas
E as crianças por ele perguntam

Caixa de correio vermelha
Não minta pra mim
Se ele não volta
Dê-me logo a carta preta
E eu poderei dizer á meus filhos:
- Teu pai mora nas estrelas...

Caixa de correio vermelha
Obrigado por enviar minha mensagem
A mensagem mais saudosa
Que meu soldado já pôde receber
Amanhã ele regressa
E o meu coração está ansioso
Mesmo que, agora com um único braço
ele venha a me envolover

Na maioria das noites quentes de verão



   A luz se apaga. Se fosse um filme soariam as doze badaladas, se fosse um livro esse seria o capítulo dois, se fosse perfeito não ecoariam agora tantas falas bobas, frases soltas e músicas que eu julgava serem apenas boas músicas antes de passar minhas noites aqui fitando o teto e imaginando que se fosse perfeito poderíamos selar os olhos e nos jogar de pijama no misterioso mundo onírico para muitas horas mais tarde acordar e meia hora  mais tarde ainda recusar levantar.
  Sinto falta de um som. A luz da janela ainda me fere os olhos e eu me lembro: é a chuva.
  A chuva que choveu na noite quente de verão e não me deixou sonhar. Ela veio como um repentino vento doce no deserto ou maresia no último andar do prédio. Pinga pequenas boas doses de lembranças e o seu barulho me nina, e o seu enigma me inspira, e o seu cheiro me fascina.